Desacelerar para se alcançar

DESACELERAR PARA SE ALCANÇAR

Um relato da primeira expedição da OBB na Amazônia.

Em comemoração aos 20 anos de existência, a Outward Bound Brasil realizou a sua primeira expedição na Amazônia percorrendo 270 km do Rio Roosevelt. Para os 15 integrantes da expedição foram 20 dias de desafios, conquistas e, acima de tudo, superação.

Texto: Andreas Martin  |  Edição: Bruno Romano  |  Fotografias: Leandro Cagiano

Levantar às 4 da manhã, desmontar o acampamento, carregar cada canoa com aproximadamente 150kg de equipamentos, remar até 40km debaixo do sol tropical, chegar ao novo acampamento à tarde, descarregar tudo, montar acampamento novamente, cozinhar, cair em um sono profundo. Só para começar tudo de novo na manhã seguinte.

Mosquitos durante a noite, borrachudos ao longo do dia. Picadas aleatórias de abelhas, vespas e formigas.

Entrar nas corredeiras, virar a canoa, nadar até um remanso, recuperar e esvaziar o barco cheio de água, voltar para dentro e seguir em frente. Roupa molhada o dia todo.

Certamente uma expedição difícil.
Mas também uma das melhores.
Por quê?

Noites de milhões de estrelas no céu e também cadentes a cada poucos minutos. Floresta intocada por quilômetros a fio. Um rio majestoso que corre até o horizonte sem pressa. Labirintos de ilhas e corredeiras. Amanhecer e pôr do sol das mais belas cores. Companheirismo e amizades inapagáveis construídas através de conversas intermináveis. Estar em algum lugar onde poucas pessoas foram, chegar lá com seu próprio suor.

Às vezes você precisa desacelerar
para se alcançar...

Em comemoração aos seus 20 anos, a Outward Bound Brasil realizou sua primeira Expedição Amazônia no trecho final de 270 km do Rio Roosevelt. Previsto inicialmente para começar em maio de 2020, a expedição histórica teve que ser adiada para junho de 2021, o que tornou essa viagem ainda mais desejável.

 

Doze participantes acompanhados por três instrutores se aventuraram na expedição de 20 dias, 15 deles no rio. O ponto de encontro foi Porto Velho, capital do estado de Rondônia. O estado leva o nome do famoso explorador e indigenista brasileiro Marechal Rondon, o pioneiro que levou o ex-presidente Roosevelt na expedição científica para mapear o “Rio da Dúvida”. Este rio mais tarde seria renomeado para Rio Roosevelt.

 

De Porto Velho, o grupo e os equipamentos pegaram um ônibus noturno para o sudeste até Machadinho do Oeste, onde 6 horas depois todos e tudo foram carregados em um ônibus da selva. O que é um ônibus da selva? Algo como uma versão off road de um ônibus escolar: pneus robustos, altos e aderentes, cabine sem ar condicionado. De Machadinho em direção oeste, mais 8 horas em estrada de terra até um pequeno povoado chamado Panelas, na margem direita do rio Roosevelt e já no estado de Mato Grosso. Pessoas e equipamentos chegaram ao seu ponto de partida.

 

Dois dias arrumando as coisas, montando as canoas dobráveis, as primeiras aulas de remar e capotar. Chegou o grande dia: tudo empacado e pronto para partir, começam os 15 dias no rio rumo ao norte.

A presença humana na região amazônica é influenciada por dois principais fatores: rios navegáveis ​​e estradas. O primeiro trecho do rio é pouco habitado por famílias que vivem numa reserva extrativista. Quanto mais o grupo remava, mais escassos eram os sinais de humanos, principalmente depois de cruzar a fronteira para o estado do Amazonas. E então veio a sensação de estar longe, muito longe. O grupo se acomodou em sua nova rotina de acordar cedo, remar, procurar bons lugares para acampar, aprimorar as habilidades tanto na água como na terra.

Longos trechos de água calmas foram interrompidos por pequenos trechos de corredeiras, o primeiro exigia resiliência e tenacidade, o segundo coragem e foco. Ambos deixaram suas marcas nas memórias por causa da natureza intocada e selvagem.

Depois de tantos meses trancados, de praticar o distanciamento social interminável, todos os membros da expedição puderam desfrutar do contato humano direto e presencial. Um especial alívio depois que as medidas de precaução foram suspensas, pois ninguém apresentou sintomas por mais de uma semana.

 

A demanda pelo contato autêntico era alta, e alto também o espírito da equipe. Essa vontade de estar conectado com os outros em alguns momentos era tão grande, que alguns dos objetivos do dia não eram todos alcançados. Mas este é um momento diferente com necessidades diferentes...

O último terço do rio também foi a seção mais longa de corredeiras. O rio não daria passagem facilmente. Explorando a melhor linha para vencer as águas brancas, desenhando planos de contingência no caso de uma canoa virar, fazendo o “lining” onde possível, carregando onde necessário. Mas também a alegria de remar nas corredeiras, mantendo a canoa firme no rumo, ganhando terreno com menos esforço. Por vezes bem fora da zona de conforto!

 

Remando quinze dias, o grupo chegou à foz do rio Roosevelt, onde deságua no Aripuanã, um entroncamento de águas realmente impressionante. Pensar que esses dois rios são pequenos afluentes do sistema amazônico torna a pessoa humilde. Tudo parece muito maior, mais amplo, mais calmo.

A uma pequena distância da Transamazônica, a “rodovia” cortada pela selva décadas atrás, a expedição foi resgatada por outro ônibus da selva. O grupo voltou de uma tacada só para Porto Velho, uma viagem de 12 horas com muito tempo para conversar sobre o futuro: então, quando mesmo vamos voltar para remar?

 

Esta foi a primeira de muitas expedições amazônicas. Muitas lições aprendidas ao longo do rio, rotas alternativas identificadas e, acima de tudo, o entendimento que as aventuras autênticas nunca são fáceis, mas valem muito a pena!

20º aniversário da Outward Bound Brasil

A OBB foi fundada em 4 de dezembro de 2000 após aproximadamente 2 anos de conversas, planejamento e reuniões das pessoas necessárias. O primeiro programa foi um curso de 15 dias com 8 jovens entre 14 e 16 anos em julho do ano seguinte. O primeiro de muitos que ainda viriam.

 

Mais de 22.000 participantes e mais de 700 programas depois a OBB continua no caminho de fazer a diferença na vida das famílias, jovens e adultos brasileiros. Os programas acontecem em todo o país, desde as Chapadas no nordeste ou centro do Brasil, até as florestas subtropicais do sudeste e, finalmente, os rios da bacia amazônica.

 

Ao longo dos 20 anos, houveram bons momentos e momentos desafiadores, todos eles um chamado para os próximos 20 anos:

to serve, to strive, and not to yield

Conheça os detalhes da Expedição Amazônia!

Visite a página do programa para ficar sabendo como é a Expedição Amazônia, basta clicar na imagem!

Expedição Amazônia da OBB

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